terça-feira, 8 de abril de 2008

DERIVAS NA ARTE



http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2008/03/26/garrafas_pet_gigantes_fazem_com_que_rio_tiete_deixe_de_ser_invisivel-426546617.asp

Exposição Quase Líquido

Garrafas PET gigantes fazem com que o rio Tietê deixe de ser invisível
Plantão | Publicada em 27/03/2008 às 08h34m
Márcia Abos - O Globo Online

SÃO PAULO - De paisagem quase invisível, o rio Tietê passa a chamar a atenção graças à instalação "PETs" do artista plástico Eduardo Srur . São 20 garrafas plásticas gigantes coloridas espalhadas em 1,5 quilômetro das margens do rio morto, entre as pontes do Limão e da Casa Verde. No local, estima-se que passam diariamente 1,5 milhão de pessoas que, pelo menos até 25 de maio, quando a obra deve ser desmontada, serão incapazes de deixar de notar o poluído rio que corta a metrópole e já foi um dia mola propulsora para seu desenvolvimento. Mesmo à noite, a instalação chama a atenção, pois há luzes dentro das monumentais garrafas PET.

Veja algumas obras que fazem parte da exposição.
A obra de arte é um dos destaques da exposição "Quase líquido", com curadoria de Cauê Alves, aberta para a visitação do público a partir desta quinta-feira no Itaú Cultural em São Paulo. O projeto "PETs" surgiu em 2006, quando Srur, que trabalha há seis anos com arte pública, havia criado a obra "Caiaques" no rio Pinheiros.

- Meu objetivo é reativar visualmente áreas invisíveis da cidade. As pessoas estão anestesiadas. Passam pelos rios mortos sem sequer vê-los. Se algumas tomarem consciência e pararem de jogar lixo nas ruas, já é alguma coisa - diz o idealista Srur.

As pessoas estão anestesiadas. Passam pelos rios mortos sem sequer vê-los
Quem passa pela Marginal Tietê vai ver as garrafas plásticas coloridas gigantes, mas também será possível agendar passeios gratuitos de barco pelo Tietê.

- A obra de Srur inverte a perspectiva com a qual as pessoas vêem a cidade. Quase ninguém olha para o rio morto. Ele é um esgoto. Será interessante poder ver a cidade de dentro do rio. A obra vai chamar a atenção e causar a reflexão. Certamente o passeio pelo rio não é agradável, mas é uma experiência importante, que pode tirar as pessoas da acomodação - reflete Cauê.

A poluição do rio como metáfora das contradições da modernidade brasileira
A idéia da mostra "Quase líquido" surgiu da premissa de que o conceito criado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman de modernidade líquida não funciona do Brasil. A exposição, que reúne 22 obras de 14 artistas, trata da exclusão social, da poluição de rios e córregos, da solidão e insegurança, da banalização dos indivíduos e da efemeridade das relações na sociedade brasileira, ainda em busca de seu posto na modernidade.


- A idéia da exposição surgiu de uma visita que fiz ao Rio Tietê. Já havia lido a obra de Zygmunt Bauman e comecei a pensar na modernidade do Brasil como uma metáfora da consistência da água do rio, que não é líquida, é pastosa, gelatinosa. Este estado quase líquido me interessou, não só como algo pitoresco, mas como um problema de nossa sociedade - explica o curador.

Por modernidade líquida, Bauman define um estado de fluidez, inconstância e provisoriedade nas relações sociais e econômicas. No Brasil, Cauê Alves observa que este estágio ainda não foi alcançado.

- O trânsito não flui, o progresso avança e retrocede aos soluços. Nas relações de trabalho, ao mesmo tempo em que vemos crescer o número de prestadores de serviços, ainda há trabalho escravo. São inúmeras as nossas contradições.

As obras que compõem a exposição discutem por meio da ironia, da provocação e até mesmo da atitude panfletária, os dilemas, as incertezas e os vazios que rondam os indivíduos no mundo contemporâneo de metrópoles como São Paulo, e vivem a contradição de serem modernas e ao mesmo tempo injustas, violentas, excludentes e ambientalmente mal resolvidas.

O grafiteiro Zezão exibe na mostra o vídeo "Suco Gástrico". Ele também foi ao Tietê buscar inspiração dentro de um dos fétidos córregos que desembocam no rio. A obra registra a experiência do artista pintando seus famosos grafites azuis nos esgotos e córregos de São Paulo.

Zezão desceu pela primeira vez aos subterrâneos da cidade aos 28 anos, em meio a uma crise de depressão. Neste território desconhecido de quem circula pela cidade, ele iniciou suas investigações artísticas.

"Quase líquido" - De 27 de março a 25 de maio - De terça a sexta, das 10h às 21h. Sábados, domingos. e feriados, das 10h às 19h.

Visita à obra "PETs", de Eduardo Srur - Visitas Agendadas pelo Navega SP: Tel.: 11 5094-448 (de segunda-feira a sexta-feira, das 8h30 às 17h30). Grupos de 20 a 160 pessoas. Duração aproximada 60 minutos. Quartas-feiras, às 10h e às 14h (a visita ocorre quinzenalmente). Visitas Espontâneas pelo Navega SP. Tel.: 11 5094-4480 (de segunda-feira a sexta-feira, das 8h30 às 17h30). Grupos de até 160 pessoas. Duração aproximada 60 minutos. Domingo às 14h. (Visitas sujeitas a alterações devido a variações climáticas e à quantidade de interessados)

Encontro com o curador Cauê Alves. Dia 5 de abril, das 14h às 18h. 35 vagas por encontro. Informações e agendamento 11 2168 1779 - das 10h às 18h.

Itaú Cultural - Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô. Fones: 11. 2168-1776/1777



trecho da entrevista com José Augusto Amaro Capela, o Zezão.

Por Eduardo Neco/Redação Portal IMPRENSA


A dificuldade de encontrar um de seus grafites é justificada pelo próprio Zezão: "Ah, eu sempre pintei para as pessoas da rua. Pessoas como mendigos, gente de albergue que não tem condições de comprar arte". Segundo ele, seus alvos preferidos contradizem o princípio do grafite: dar visibilidade à mensagem criada. "Ninguém queria ir grafitar o esgoto comigo. Ninguém entendia nada", salienta.







site do artista Zezão.
http://www.artesubterranea.com

Um comentário:

suzana coroneos disse...

Teremos um novo ponto de vista das pontes sobre o rio. Agora veremos estas por baixo. Assim criamo novos espaços para a arte na cidade.